Uriah Heep encanta Porto Alegre em concerto de despedida – 10/04/2025 – Resenha do show

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Pouco mais de 10 anos separaram a audiência porto-alegrense dos magos da banda inglesa Uriah Heep ao vivo e in loco, que desta vez, aterrizaram em solo gaúcho para uma última apresentação na cidade (pelo menos é o que prometem em sua tour de despedida dos palcos) como parte da turnê mundial intitulada The Magician’s Farewell, chegando ao Brasil depois de algumas datas em sua terra natal no início do ano, passando também pelo Uruguai, Argentina e Chile no começo de abril. Mick Box, guitarrista e único membro original remanescente do grupo formado lá nos idos de 1969, ao lado do vocalista Bernie Shaw ( o grande nome da noite, uma misturinha visual de Jorn Lande e Kai Hansen com os trejeitos de Ronnie James Dio), do tecladista Phil Lanzon, do baterista Russell Gilbrook e do baixista Dave Rimmer, apresentaram suas joias consagradas assim como algumas músicas de seu mais recente trabalho , Chaos & Colour, lançado em 2023.

Com um setlist gessado ( onde qualquer fã que se dê ao trabalho de pesquisar a sequência de músicas dos concertos anteriores pode se tornar o mestre dos spoilers! ), não foi uma surpresa o apagar das luzes e as notas iniciais de Grazed by Heaven soarem nos amplificadores às 21h:59min:30s, de acordo com a famosa pontualidade britânica, assim como a nova e muito boa Save me Tonight logo atrás, com os gritos de “Are you with me, Porto Alegre?!” de Mr. Shaw durante a execução.

Em seguida, duas velharias, uma de 1971 e a outra de 1973, respectivamente Shadows of Grief e Stealin’. A primeira com uma sonoridade obscura, carregada de tensão e dor e a segunda, um blues-rock com uma pitada folk que remete aos conterrâneos da banda Elf do já citado Ronnie James Dio em seu debut um ano antes. Correlações à parte, voltemos ao show. Hurricane, uma “porrada” do novo álbum, fugindo um pouco da atmosfera setentista das demais canções, agitou os ânimos contrastando com o sequente decaimento em The Wizard, uma tremenda balada ao som de violões executada com toda a emoção contida originalmente na gravação de estúdio de 1972. Sweet Lorraine, um blues melancólico fez o interlúdio para Free ‘n’ Easy, a mais heavy metal da apresentação.

The Magician’s Birthday, música do trabalho homônimo de 1972 com seus mais de 10 minutos de duração, um épico, abriu as portas para Gipsy, talvez a mais esperada pelos fãs por ser do disco de estreia e uma faixa símbolo do grupo. July Morning, do segundo álbum, marcou o fim do bloco principal e uma breve pausa, para mais uma bebericada do baixista Dave Rimmer, com seus 56 anos de vida e o único da banda como os cabelos não grisalhos, que degustava frequentemente o que parecia ser uma cerveja em uma garrafinha preta disposta estrategicamente ao lado do set de bateria. Nada como ser o mais jovem da turma !!

A clássica Sunrise de 1972, com seus famosos backing vocals em gritinhos operísticos, seguida por Easy Livin’, do mesmo ano mas de outro álbum e talvez o maior sucesso do grupo, formaram juntas o ponto alto da noite ( que já vinha sendo muito bem conduzida ), retratando que o grupo realmente acertou em trazer o que há de melhor em matéria de composição e importância histórica na escolha do setlist.

A banda Uriah Heep, mesmo que um pouco menosprezada pelas massas, sempre foi uma mistura perfeita de muito bom som instrumental, letras fantasiosas e intrigantes, melodias marcantes levadas pelas frases das guitarras quase sempre regadas com wah-wah, pelo som maciço dos órgãos Hammond e pelas fortes harmonias vocais; que com o encerramento de suas atividades em breve e para a tristeza dos fãs, só nos resta guardar na memória e na prateleira de CDs todo o legado deixado por um grupo que influenciou bandas como Queen, Iron Maiden e Accept, montado pelas pessoas certas na hora certa e no lugar certo – a Inglaterra dos anos 60/70 – de uma era musical marcada pela inspiração, virtuosismo e inovação, tempo este que não voltará mais.

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Fisioterapeuta especializado em Medicina do Esporte, Músico (ex Duahlen) e Crítico Musical. Especialista em Heavy, Hard e no bom e velho Rock 'n' Roll. Sempre à disposição para uma boa conversa!! 👉 @ricodanielski 🤘