40 anos separaram os primeiros acordes gravados pelos irmãos Max e Igor Cavalera dos dias atuais em que a banda, já com outros 2 integrantes em seus postos, se despede dos palcos e do público sul-brasileiro na turnê Celebrating Life Through Death – Brazilian Farewell Tour 2025, com casas cheias em Curitiba (29), Florianópolis (30) e Porto Alegre (31).
Muito tempo passou. Tivemos o conturbado fim da era Max com as várias intrigas da banda em relação à sua esposa e empresária Gloria Cavalera, e posteriormente o da era Igor, que segurou as baquetas do Sepultura sem a companhia do irmão por quase 10 anos. A chegada de Derrick Green aos vocais em 1997 e do extraordinário baterista Eloy Casagrande em 2011 (que hoje pilota o drum set do grupo americano Slipknot), conseguiram manter um alto nível pelo menos nas apresentações ao vivo da época pós Roots, talvez o disco mais maduro e emblemático da banda, e um dos mais aclamados do Thrash Metal mundial. Como outrora bem disse Mr. Corey Taylor, vocalista do Slipknot, em relação à Max e ao álbum Roots de 1996, em outras palavras: “Max pode fazer e falar o que quiser agora, ele gravou Roots” …. Sábias palavras!
Com um atraso de meia hora, provavelmente devido à grande quantidade de gente que ainda entrava pelos portões mesmo depois da hora marcada, Beneath the Remains e Inner Self do álbum de 1989, soaram nos amplificadores e marcaram o início da apresentação já num patamar elevado. Pancadaria pura dos primórdios do grupo. A partir daí, tivemos uma bela revisitação de sua indiscutível herança, com performances de músicas da consagrada década de 90 dos discos Arise, Chaos A.D. e do já citado Roots, assim como de algumas das mais recentes de Kairos (2011), Machine Messiah (2017) e Quadra (2020). Destaque para a instrumental Kaiowas de 1993, onde a banda convidou músicos locais e amigos para aumentar a sonoridade percussiva, com alguns tambores extras dispostos pelo palco. Pude ver os irmãos Rafael e Renato Siqueira da It’s all Red, banda porto-alegrense de Heavy Metal, descendo o braço em um dos tambores ao lado do guitarrista Andreas Kisser. Uma sacada bem legal! Aliás, não posso deixar de mencionar o desempenho do novo baterista, o americano Greyson Nekrutman, chamado para esta última turnê ocupando a vaga de Eloy Casagrande e que não deixou nenhuma batida fora do lugar. Realmente, “esse Seu Creysson” vem fazendo um excelente trabalho, dadas a mescla histórica e a dificuldade técnica das canções apresentadas no setlist.
Orgasmatron, um cover do Motörhead, e Troops of Doom da era de um Sepultura quase Black Metal lá de 1986, fizeram o interlúdio para o desfecho de Territory, Refuse/Resist e Arise, 3 das músicas mais aguardadas pela audiência que incendiou a pista em frente ao palco com as famosas rodas de socos e chutes, algo bem comum de ser ver em um show sepulturiano.
Uma pausa para respirar … mais uns goles de cerveja para hidratar ( ! ) … e pronto. Veio o bis com Ratamahatta, uma baita composição fora dos padrões que mistura música pesada, temas indígenas e de vodu dizendo: “Biboca garagem favela, biboca garagem favela! Fubanga maloca bocada, fubanga maloca bocada!” Em outra parte da música: “Zé do Caixão, Zumbi, Lampião. Zé do Caixão, Zumbi, Lampião …” Sem dúvida, uma chapação muito louca que só o Sepultura seria capaz de arquitetar!
Ainda faltava Roots, faixa título do álbum de 1996. E ela veio com a massa saltitando em uníssono: “Roots, bloody Roots, Roots, bloddy Roots. Roots, bloody Roots, Roots, bloddy Roots”.
Vida longa ao Sepultura! Infelizmente em breve não mais ao vivo e in loco, mas eternamente sepultado em nossas memórias graças ao seu legado que continuará sempre vivo embalando os amantes do bom e velho Heavy Metal.